Com vozes de toda a América Latina, é lançado o IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens
Mais de 800 mulheres participaram do lançamento em Brasília, que reforçou a solidariedade internacional e a luta contra o colonialismo e os impactos das grandes obras
Publicado 05/06/2025 - Atualizado 06/06/2025

Atingidas de todas as regiões do Brasil se reuniram nesta quarta-feira, (4), na Jornada Nacional de Luta das Mulheres Atingidas, para lançar oficialmente o IV Encontro Internacional de Atingidos por Barragens e pela Crise Climática. O evento será realizado em novembro, em Belém (PA), paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). O encontro promete reunir experiências de resistência e organização popular de diversas partes do mundo.
O lançamento foi marcado por uma mística conduzida por representantes de diversos países da América Latina, com cantos de solidariedade, feminismo popular e anti-imperialismo ecoando pelo espaço. Em um dos discursos, a militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Olívia, destacou a importância da articulação internacional: “A construção de uma nova solidariedade é coletiva, uma rede que atravessa mares, montanhas e desertos. Uma força que sabe que o colonialismo só cai quando o povo se une, quando a luta é internacional.”
Trajetória dos Encontros

O primeiro Encontro Internacional de Atingidos e seus Aliados ocorreu em Curitiba (PR), em 1997, onde foi aprovada a Declaração de Curitiba, que expressa a unidade das lutas de populações impactadas por barragens ao redor do mundo. O texto denunciou a expulsão de comunidades, a inundação de terras férteis e locais sagrados, a destruição de reservas de pesca e água potável, bem como os danos sociais, culturais e econômicos gerados por grandes obras hidrelétricas, realçando a disparidade entre as promessas de desenvolvimento e a realidade vivida após a construção.
Fiel a essa trajetória internacionalista, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manteve participação ativa nos encontros seguintes – em Rasi Salai (Tailândia, 2003) e Temacapulín (México, 2010) – e foi peça-chave na criação, em 2016, do Movimento de Afectados por Represas (MAR). Hoje, composto por mais de 25 organizações em 21 países da América, Europa, África e Ásia, o MAR se estrutura em três pilares: resistência e pressão popular concretas; formação política e técnica; e o fortalecimento de organizações sociais robustas.
Importância de retornar ao Brasil
Em um contexto de avanço da extrema direita em várias partes do mundo, marcada pelo negacionismo climático, o autoritarismo e a ofensiva contra os direitos territoriais, a realização do IV Encontro Internacional no Brasil assume ainda maior relevância. A floresta amazônica, foco constante de ataques e exploração, inserida em um modelo de desenvolvimento predatório, é protegida graças à resistência ativa de povos ribeirinhos, quilombolas, indígenas e comunidades atingidas por grandes projetos.
Esses povos, historicamente marginalizados pelas políticas de Estado, são os guardiões históricos do clima, dos bens comuns e da democracia. Suas lutas cotidianas se tornam barreiras concretas contra a destruição ambiental e o avanço de ideologias que colocam o lucro acima da vida, reafirmando que a preservação das florestas a, necessariamente, pela valorização de seus guardiões.
Internacionalizar as lutas é nossa esperança. Viva a luta dos atingidos no Brasil e no mundo!
