Jornada de Lutas do MAB reúne 1.000 mulheres em Brasília (DF) para reivindicar os direitos dos atingidos por barragens

Atingidas de diversas regiões do Brasil vão debater violações de direitos, pressionar por políticas públicas para os atingidos  e marchar contra devastação ambiental no país

Foto: Nane Camargos / MAB


De 2 a 5 de junho, Brasília será palco da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Atingidas: Para Enfrentar o Fascismo, a Crise Climática e Avançar nos Direitos. O evento, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reunirá cerca de mil mulheres de diferentes regiões do Brasil. O objetivo central é criar um espaço para que as atingidas possam compartilhar experiências e pressionar o poder público por respostas concretas às suas demandas.

Entre as principais reivindicações das mulheres atingidas, destacam-se a regulamentação e aplicação da Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas (PNAB), a criação de planos de segurança para as populações impactadas por barragens, grandes projetos e mudanças climáticas e o enfrentamento da devastação ambiental promovida pelo setor do agronegócio no país.

A programação inclui um ato político com parlamentares, integrantes de órgãos de Estado e ministros, como a Ministra das Mulheres, Márcia Lopes, e representantes das pastas do Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Secretaria-Geral da Presidência da República, Minas e Energia, entre outros. Também está previsto um ato de denúncia contra a alta dos juros. Haverá ainda uma marcha no Dia do Meio Ambiente (5 de junho) para denunciar o desmonte da legislação ambiental, que se agrava com a aprovação do PL do Licenciamento (PL 2.159/2021) no Senado, projeto de lei que afeta diretamente as comunidades atingidas por barragens.

Conforme Ivanei Dalla Costa, integrante da coordenação do MAB, a luta das mulheres é diária e multifacetada, devido às contradições e à violência da estrutura patriarcal da sociedade. “As mulheres são as mais impactadas por eventos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia, e pelos rompimentos de barragens, como os de Mariana e Brumadinho. É sobre os ombros das mulheres que recaem as principais preocupações com a proteção e o sustento da família em momentos de crise, tornando-as as vítimas mais diretas da perda material e da precarização dos modos de vida relacionada aos crimes e desastres socioambientais que se repetem no Brasil. Por isso, no MAB, elas são protagonistas da luta por direitos”, avalia.

A coordenadora destaca que a gravidade da violação dos direitos das mulheres se estende à violência física: “Temos vivido exemplos, inclusive, da perda da vida de muitas integrantes do Movimento”, lamenta Ivanei, citando casos como o de Nicinha (Nilce Magalhães) e Dilma Ferreira, vítimas de violência política na Amazônia; Débora Moraes, vítima de feminicídio no Rio Grande do Sul; e Flávia Amboss, vítima do fascismo no Espírito Santo.

Ato dos movimentos sociais em defesa do Código Florestal, contra o uso de agrotóxicos e por um novo projeto energético popular, em Brasília. Foto: Leandro Silva

Desmonte Ambiental, Transição Energética e Alta dos Juros em debate

Além dos atos públicos, a Jornada contará com uma feira cultural e uma série de eventos na Universidade de Brasília (UnB) – Centro Comunitário Athos Bulcão, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte – com a participação de mulheres da Plataforma Operária e Camponesa da Água e da Energia, do movimento sindical e de outros movimentos populares. A proposta é discutir a situação econômica do Brasil, marcada pela inflação decorrente de um modelo dependente do mercado externo e dos efeitos da privatização de setores-chave – como o de energia -, os desafios impostos pelas mudanças climáticas, que afetam a população mais pobre globalmente, e outros temas relacionados aos direitos humanos.

Feira Cultural

A 1ª Feira de Integração das Mulheres Atingidas será um espaço onde as mulheres trarão seus produtos de artesanato e regionais para expor e compartilhar, fortalecendo a cultura e a economia solidária entre as comunidades.

Programação

02 de junho

Tarde: Abertura da Jornada e da 1ª Feira de Integração Cultural das Mulheres Atingidas.

Ato político de abertura da Jornada, com presença da UNB e abertura da 1ª feira de integração cultural das mulheres atingidas.

03 de junho

Manhã: 1ª Feira de Integração Cultural das Mulheres Atingidas.
Tarde: Ato de denúncia dos altos juros.

04 de junho

Manhã: Ato: “Políticas Públicas de Estado para a Reparação dos Direitos das Populações Atingidas”, com presença de ministros, parlamentares e órgãos do Estado.
Tarde: Mesa: “Patriarcado e Violência: Os Desafios da Luta das Mulheres no Atual Contexto Histórico e o Legado das Lutadoras Atingidas”. Lançamento do livro “Imprensados no Tempo da Crise: A Gestão das Afetações no Desastre da Samarco (Vale e BHP Billiton)”, de Flávia Amboss.

05 de junho

Manhã: 1ª Feira de Integração Cultural das Mulheres Atingidas.
Manhã: Marcha: “Mulheres atingidas em defesa do meio ambiente – contra o PL da Devastação”.
Local: Concentração no Teatro Nacional (SCTS) – Brasília (DF)
Horário: 09h

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 30/05/2025 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

Mulheres do MAB: vozes da resistência por justiça e direitos para os atingidos

Com diferentes histórias de resistência, as mulheres do MAB levam para Brasília a força de um Brasil que luta contra crimes ambientais, privatizações e os efeitos da intensificação da crise climática

| Publicado 05/06/2025 por Camila Fróis / MAB, Victória Holzbach / MAB

Mulheres do MAB encerram Jornada de Lutas em Brasília (DF) com ato contra o PL da Devastação e Grito por Gaza

No Dia do Meio Ambiente, cerca de mil mulheres marcharam na Esplanada do Distrito Federal para denunciar os efeitos devastadores de grandes empreendimentos na vida de comunidades tradicionais e periferias do país e lutar contra o PL que flexibiliza o licenciamento ambiental

| Publicado 08/03/2024 por Coletivo Nacional de Comunicação do MAB

8M: Mulheres vão às ruas de todo o país lutar por igualdade salarial, democracia e fim de toda a violência de gênero

Data dá início à Jornada de Lutas do MAB, que também inclui o 14 de Março, Dia internacional de Luta em Defesa dos Rios, contra as Barragens, pela Água e pela Vida, e o 22 de março, Dia Mundial da Água